Aurora

A canção ressoa ao fundo e vem ninada pelo balançar do vento; no palco as cordas do violão são dedilhadas e no chão vão se amontoando sonhos ; nossos olhares se cruzam fixos como quem busca privacidade em meio milhares de outros corpos; nos invadimos ,mergulhamos dentro da imensidao de nossas almas buscando folego no toque de nossas peles ;das pernas sobem único o calor que vai ardendo o corpo e desperta como girassóis sempre voltados a luz; nosso ultimo beijo sem que os labios se toquem ,sem que as linguas se entrelacem buscando sugar a essencia de uma felicidade compartilhada ; te arrastarei pela passagem pois com você eu aceitei que o sol nasce mesmo em dias que as nuvens o cobrem e deixam cinzento o que sempre foi azul.

Alvorada

Simples passagens negras na alcova de mármore gelado como corpos rígidos na partida . Beijos quentes que não reascendem velhas historias caminham complacentes no chão carregado de folhas amarelas ao fim da primavera,o céu alanrajado renascendo como éden de gaivotas rumando ao litoral de meu próprio domínio , sou aquele que observa o pequeno homem adulto ,o poste de ostentação ,muro das lamentações de convictos ateus.
Vou por entre as trilhas de cimento arcaicos banhados em sangue crente de que minha astucia eis de lavarme e salvarme dessa falsa sensação de descenso que me persegue ,corriqueira e duradoura como vírus que infecta e se apossa de frágeis corpos sem distinguir suas moradias ,Tê assolam como almas vagantes por entre becos hostis , reinante odor da morte sentido pelo olfato quando lentamente vai tomando o ar e te guia a escuridão , o medo súbito quando superado traz a maior das recompensas, no fim da escuridão há apenas uma grande fossa e somente lá se percebe que é onde encontramos os ratos mais dóceis e amorosos e as pessoas mais cruéis.

Todas as Verdades

Sempre acreditei que as verdades venham em pares, apenas como silhueta de um incansável peregrino calejado pelo caminhar no concreto. Ao doce inferno semeado nos minusculos cômodos espalhados pelas entranhas da selva; onde o tempo se desfaz como presente . Lá somos nos mesmos ,amagos ao cruzar do olhar ;A rosa brota na lama vermelha como sangue,vida,restrita como a beleza da morte e o amor que perpetua após a partida. Tudo passa como um arco íris em um fim de tarde de dezembro ,os beijos cessam ,juras de amizades eternas se perdem tão ligeiras como a luz da vida a sombra;abaixo delas na escuridão que compreendemos o real brilho que envolve os afortunados.
Quando o inverno aquece e o verão congela ,a carne oculta o que remoí e arde nas entranhas .Singelas são tais estações que nos condenamos ao autoflagelo de sorrisos delicados enraizados nos antros da selvageria .